O amor

Queria ter escrito no dia 12. Queria, três meses depois, ter falado do dia no meu casamento, assunto que tenho pena, agora, passados uns tempos, não ter explorado mais aqui neste cantinho.
Para dizer a verdade tenho pena de não ter deixado aqui resgistado toda a organização do evento, das dúvidas e certezas, das chatiçes e das alegrias. Foram meses intensos, de sentimentos muito contraditórios e, infelizmente, as tristezas têm têndencia a ocupar muito, mas muito mais espaço que as alegrias.
Não sei se é bom ou é mau, sei só que é assim mesmo. No exacto momento em que chegou a notícia mais triste da minha vida estava a cronometrar quanto tempo tinha que dedicar a cada lembrança dos convidados, para ver se valia a pena ser eu a fazer ou não. E de repente nada fazia sentido. Nada. Os convites que tinha acabado de enviar chegariam a todos os convidados no dia seguinte. Houve quem me tivesse dito é sinal que a vida continua. E a verdade é que tinha razão, mas a minha mente confusa nessa altura conseguia ouvir muito pouco...
E foi assim que a história da preparação do nosso casamento ficou para sempre ligada à morte do meu irmão. Contra isto não podiamos fazer nada. Só lembramo-nos que até aí ele tinha sido o nosso confidente, o nosso braço direito na organização. Tinha a música e a imagem a seu cargo. Era a ele que pediamos os mais variados conselhos e, portanto, foi quem me ajudou a decidir mudar a data numa manhã em que estava sozinha Assim tens duas datas para festejar e eu celebro os meus anos! Vai ser bom, é inicio da primavera, é uma época feliz! Muda, muda a data! E mudamos. E não lhe voltamos a tocar porque tinhamos a certeza que querias muito este casamento.
Acabei por ter a semana anterior ao casamento pautada pelo teu 3º mês e 28º aniversário nunca festejado. E não te ter abraçado no fim da cerimónia, nem ter dançado contigo no centro da pista a partir tudo como imaginámos.
Mas estavas lá, e lá estou eu outra vez a falar do meu casamento ligando-o a ti. E não quero. Quero ligá-lo unicamente à felicidade de ter casado com o Filippo.
E com isto quero voltar ao que me trouxe aqui no inicio, para escrever este post. Que era ter estado meses a pensar no lugar para a festa, na decoração, nos dicionários, no problema das duas línguas, na deslocação e alojamento dos italianos, no vestido, sapatos e adereços, na maquilhagem e penteado, no menu, nas lembranças, nas dedicatórias, nos convidados, nos convites....tudo tinha que estar perfeito e muitas coisas não eram exactamente como tinha imaginado, como queria. Demasiadas. Mas neste percurso percebi também que a vida nunca é como imaginamos.
Mas chegado ao fim o dia que, contra todas as expectativas, foi o mais feliz da minha vida, cheguei à conclusão que nada disso tem importância. O espaço não era o dos meus sonhos. Foi o que de melhor se arranjou perto de Viana, por causa dos italianos, sem degraus, por causa da mãe da noiva, pequeno por causa dos 70 convidados, com vista para o mar por causa dos noivos. O tempo não era o que tinha imaginado porque choveu o dia todo. A música foi o que foi, não se sabe se porque o dj foi arranjado dois dias antes ou se porque o senhor da quinta estava sempre a pedir para meter mais baixo. No entanto, no dia seguinte ninguém me falou disso. Mas nem sequer do bem que se jantou, ou da beleza da decoração, ou do giro que estavam os dicionários. Toda a gente falou do nosso amor.
Do meu amor pelo Pi, e do dele por mim. Toda a gente nos falou exactamente do que nos reunia ali. O Amor. E então percebi que os cabelos brancos que me apareçeram durante os últimos três meses de preparação no fim das contas não valeram a pena, porque o nosso amor sempre lá esteve. E para que o dia fosse perfeito bastou-nos pura e simplesmete ser nós próprios.

4 comentários:

Dulce disse...

Oh Rita, eu não consigo dizer-te como este texto é bonito e comovente! Ou então sou eu que estou (sou) muito sensível. Ou as duas coisas...

Bacouca disse...

Ritalia,
A 1ª parte do teu post comoveu-me muito pois eu sei a ligação forte que tinhas com o Afonso e a alegria que ele andava a viver o teu casamento.
A 2ª parte acho que descreves muito bem o que "transpirou" para todos que tiveram presente: o grande amor que vos une e que se nota tão naturalmente.
E como eu fico feliz por isso!
A organização correu muito bem, portugueses e italianos conviveram como um grupo uno que festejavam com imensa alegria a vossa festa.
A felicidade reinou ao ponto de conseguirmos superar da melhor forma a falta do Afonso.
Um grande beijo

Ritália disse...

Dulce, escrevo para responder ao seu pedido de ir ficando por aqui, pedindo desculpas por ter demorado tanto a fazê-lo. É claro que pode, terei muito gosto!
Um beijinho

di disse...

Querida Rita.. concordo completamente ctg! o Vosso amor e a forma como o trocam bastava para ter feito do dia o mais especial das vossas vidas.
Lindos*