Arrependo-me, passados uns anos, de todas as tardes de Agosto em que gozei com os avec's. De todas as gargalhadas que dei ao fim da tarde na praia quando os ouvia a misturar português e françês, de todas as noites em que os imitei com maldade.
Agora, dois anos e meio de vida italiana depois, acontece-me a mim pensar em italiano, iniciar as frases que deviam ser lusas com um ecco, ou meter um quindi lá pelo meio ou, ainda pior, apropriar-me de palavras italianas como portuguesas ou, por um momento, não me lembrar como se diz uma coisa na minha língua materna...
É triste, eu sei, mas é assim mesmo e agora compreendo todos aqueles emigrantes em França que, depois de passar 11 meses a falar françês naquele mês de Agosto lhes era dificil desligar...Porque agora eu sou assim também. Não que não goste do português ou tenha vergonha de ser portuguesa. Nada disso e muito pelo contrario! Longe de mim falar mal do meu país e trair a minha lingua...só que passar o dia todo a falar e ouvir italiano dá nisto...

Eu quero

Quero muito sentir a maresia e pôr o pé na areia dourada, tocar o mar prateado e ver o pôr-do-sol cobre.
E quero passear à beira rio ao fim da tarde e até quem sabe de manhã. E quero ver a Kuata sem dentes e que ela ouça o meu coração bater. E quero também sentir o Fagundes aos meus pés.
E quero muito sair e viver uma longa noite de verão com as minhas amigas.
E quero estar em casa e comer uma torrada e meia de leite ao pequeno-alomoço. E beber água do luso. E comer uma natinha. E quero muito sardinhas bem gordinhas e uma fatia de broa.
E quero tanto, tanto, ver o meu Vasquinho e sentir-lhe o cheirinho e mordiscar-lhe as bochechas.
Quero ver Portugal a jogar sentada, de lado, toda torta, com as pernas no braço da cadeira e o rabo inclinado.
Quero ouvir português todo o dia e voltar a sonhar na língua lusa. Quero ouvir "bacurada", "prontos", "oh tone", "invejosa" em vez de "egoista" e todas as palavras e expressões que antes detestava e que agora tenho tantas saudades.
Quero muito isto e muito mais e já falta pouco! E quero muito que da proxima vez não demore tanto a voltar...