Era uma vez um peixinho...

...um peixinho muito especial.

Era douradinho, de um magrinho gordinho que adorava salsichas.

Diziam que andava sempre dividido entre o mar e o ceú, por onde navegava à vista entre devaneios e ilusões. Diziam, porque na que realidade ele tinha poderes especias e, mesmo vivendo no meio de todos nós, respirando o mesmo ar, ele conseguia pegar na realidade e transporta-lá para uma reino mais profundo, talvez inspirando-se nas suas visitas ao fundo dos oceanos.

Só alguns priviligiados o conheciam melhor na sua vida terrena. Era preciso tempo, paciencia. Adorava brincar e fazer rir. Sorrir das coisas simples e rir das coisas sérias para que a gravidade da terra não o impedisse jamais de flutuar sobre as núvens onde o sol brilha sempre. Mas entre uma volta aos céus e umas bracadas no mar, ele andava bem atento aos que mais amava, tentando fazer-lhes todo o bem que lhes queria.
Tenho saudades da minha foquinha...sempre.

Não só quem nos odeia ou nos inveja

Nos limita e oprime; quem nos ama
Não menos nos limita.
Que os deuses me concedam que, despido de afetos, tenha a fria liberdade
Dos píncaros sem nada.
Quem quer pouco, tem tudo; quem quer nada
É livre; quem não tem, e não deseja,
Homem, é igual aos deuses.
Ricardo Reis
Arrependo-me, passados uns anos, de todas as tardes de Agosto em que gozei com os avec's. De todas as gargalhadas que dei ao fim da tarde na praia quando os ouvia a misturar português e françês, de todas as noites em que os imitei com maldade.
Agora, dois anos e meio de vida italiana depois, acontece-me a mim pensar em italiano, iniciar as frases que deviam ser lusas com um ecco, ou meter um quindi lá pelo meio ou, ainda pior, apropriar-me de palavras italianas como portuguesas ou, por um momento, não me lembrar como se diz uma coisa na minha língua materna...
É triste, eu sei, mas é assim mesmo e agora compreendo todos aqueles emigrantes em França que, depois de passar 11 meses a falar françês naquele mês de Agosto lhes era dificil desligar...Porque agora eu sou assim também. Não que não goste do português ou tenha vergonha de ser portuguesa. Nada disso e muito pelo contrario! Longe de mim falar mal do meu país e trair a minha lingua...só que passar o dia todo a falar e ouvir italiano dá nisto...

Eu quero

Quero muito sentir a maresia e pôr o pé na areia dourada, tocar o mar prateado e ver o pôr-do-sol cobre.
E quero passear à beira rio ao fim da tarde e até quem sabe de manhã. E quero ver a Kuata sem dentes e que ela ouça o meu coração bater. E quero também sentir o Fagundes aos meus pés.
E quero muito sair e viver uma longa noite de verão com as minhas amigas.
E quero estar em casa e comer uma torrada e meia de leite ao pequeno-alomoço. E beber água do luso. E comer uma natinha. E quero muito sardinhas bem gordinhas e uma fatia de broa.
E quero tanto, tanto, ver o meu Vasquinho e sentir-lhe o cheirinho e mordiscar-lhe as bochechas.
Quero ver Portugal a jogar sentada, de lado, toda torta, com as pernas no braço da cadeira e o rabo inclinado.
Quero ouvir português todo o dia e voltar a sonhar na língua lusa. Quero ouvir "bacurada", "prontos", "oh tone", "invejosa" em vez de "egoista" e todas as palavras e expressões que antes detestava e que agora tenho tantas saudades.
Quero muito isto e muito mais e já falta pouco! E quero muito que da proxima vez não demore tanto a voltar...

O ritmo deste blog tem vindo a diminuir...

Terei menos novidades?
Terei menos vontade de escrever?
Terei menos tempo para escever?
Sentirei menos entusiasmo nas coisas que faço?
Terei deixado de ter novidades?
Ou ter uma vida aqui, feita de um dia depois do outro, tornou-se tão normal quanto vivê-la em Viana?
Nessa altura eu não tinha blog e nem sentia essa necessidade...

1 Abril 2000

Há exactamente 10 anos atrás era sábado e festejavamos o aniversário de uma amiga. Decidi, com um amigo, inventar uma história. Nada de mais, só uma bricadeira. Toda a gente acreditou e todos riram quando perceberam que era mentira.
Não sei se era nossa vontade que tudo aquilo fosse verdadeiro ou se foi só uma coinciência, mas a verdade é que passados uns tempos a brincadeira tornou-se realidade.
Este ano vou pensar no que gostaria que acontecesse e fazer-me acreditar que é verdade. Vou mentir a mim mesma e esperar que daqui a uns tempos se transforme em realidade.

tanto tempo depois...

Sei que venho com muito atraso que já devia ter vindo aqui há mais tempo para contar muitas novidades da minha vida italiana.
Têm acontecido muitas coisas, a grande maioria boa, muito boa. O problema é que cada vez tenho menos tempo para mim, e para vir aqui.
É sempre a velha desculpa, eu sei...é com o blog, com os mails em atraso, com as chamadas prometidas...vai-se adiando, adiando e quando se dá por ela o tempo passou, as coisas aconteceram e para poder actualizar seja o que for é preciso estar aqui uma eternidade a escrever.
Vou tentar ser sussinta. Vou tentar ir por ordem cronologica. Tentar não dar mais enfase ao que aconteceu ontem só porque me lembro melhor, mesmo que não tenha sido a coisa que me fez ficar mais feliz neste último periodo.
Desde a ultima vez que escrevi o trabalho tem corrido muito bem. Estamos a conseguir fazer o que queriamos desde o inicio: ter trabalho nosso aqui e em Portugal, colaborar com outros gabinetes, criar uma imagem e uma rede de contactos. Vemos agora os frutos do que plantamos e é bom, muito bom.
Estamos cheios de trabalho, muito cansados, mas felizes.
Desde a ultima vez que escrevi já fomos a Portugal passar o Natal, a Paris passar 4 dias maravilhosos e já comprei a minha proxima viagem a Portugal, de 19 a 28 deste mês.
Desde a ultima vez que escrevi concluí a primera parte do meu curso de Português para amigos com um belo jantar tipico lá em casa e fui contactada por uma escola de linguas que precisa de uma portuguesa para dar aulas.
Desde a ultima vez que escrevi que não sou apenas uma arquitecta inscrita na OA em Portugal, mas também uma arquitecta inscrita na Ordem dos Arquitectos Italianos e que, portanto, pode assinar projectos aqui e ai.